Não proíba o fracasso, faça uma festa para ele

Amy Edmondson revela na ATD 2025 como abraçar o fracasso inteligente, cultivar segurança psicológica e transformar erros em combustível para a inovação e o sucesso em ambientes cada vez mais incertos

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Por Fala T&D, direto da ATD 2025 | Washington, EUA 


Dra Amy Edmondson, referência mundial em liderança e psicologia organizacional e uma das speaker mais aguardadas do evento, trouxe à ATD 2025 uma palestra poderosa sobre o papel inevitável e necessário do fracasso nas organizações que desejam inovar e prosperar em tempos de incerteza. Para ela, entender e gerir o fracasso de forma inteligente é o diferencial entre o sucesso e o colapso. 

“O fracasso não é apenas parte da vida – ele é parte essencial do aprendizado organizacional e da sobrevivência em um mundo incerto.” 

Amy compartilhou que estuda o fracasso há quase três décadas e que chegou a uma conclusão simples, porém profunda: falhar faz parte da vida e, especialmente, do ambiente organizacional em um mundo incerto. Porém, nossa percepção natural sobre fracasso é falha – aprendemos desde cedo que errar é ruim e isso cria aversão natural ao erro, ainda mais quando as organizações reforçam essa visão, gerando medo e ocultação de problemas. 

“Nós aprendemos desde crianças que errar é algo ruim. Mas em ambientes de trabalho, essa aversão cria uma cultura onde ninguém quer admitir que errou – e isso é fatal para a inovação.” 

Aliás, para ilustrar a importância da normalização do fracasso, Amy Edmondson contou na ATD a história da professora Jennifer Heemstra, química da Emory University, que estima que 90% dos experimentos em seu laboratório resultam em falhas. Ela insiste que, para formar bons cientistas, é preciso “desintoxicar” o medo do erro – afinal, muitos estudantes que ingressam em laboratórios são “crianças de notas 10”, sem experiência de fracasso. 

Culturas de fracasso: evitar ou aprender? 

Conferência da Dra Amy Edmondson na ATD 25 em Washington DC sobre 'desbloqueando o crescimento por meio de falhas inteligentes'
Conferência da Dra Amy Edmondson na ATD 25 em Washington DC sobre ‘desbloqueando o crescimento por meio de falhas inteligentes’

A Dra destacou que existem basicamente duas culturas organizacionais frente ao erro: a que evita falhas a todo custo e a que abraça o fracasso inteligente como parte do aprendizado. A questão não é escolher entre uma ou outra, mas mudar nosso pensamento para sermos eficazes diante da complexidade e incerteza do mundo moderno. 

“Declarar o fracasso proibido não cria perfeição – cria cegueira. Organizações que não aprendem com o erro, simplesmente ficam no escuro”, alfinetou. 

Amy Edmondson explica que o esforço nem sempre leva ao sucesso – e o contexto importa 

Ela explicou que, embora haja uma relação entre esforço e sucesso, ela é imperfeita. Por exemplo, trabalhar muito pode resultar em fracasso (como nos experimentos da Jennifer), e “não se esforçar” pode gerar sorte inesperada. Além disso, Amy classificou os contextos de trabalho em três tipos que influenciam o risco e a natureza do fracasso: 

  • Consistente: ambientes previsíveis, como linhas de produção automobilísticas, onde resultados são conhecidos e replicáveis. 
  • Variável: ambientes com alguma imprevisibilidade, como hospitais, onde cada caso é diferente. 
  • Novo: territórios desconhecidos, como pesquisas científicas ou inovação radical, onde ainda não sabemos o caminho para o sucesso. 

“À medida que a incerteza aumenta, a disposição para falar e aprender sobre falhas precisa crescer – e isso exige coragem e segurança.” 

Conte histórias sobre falhas 

Amy Edmondson, durante a ATD, detalhou três arquétipos de falha, exemplificando cada um para tornar claro o conceito: 

  • Falha básica: ocorre em territórios conhecidos, resultado de erro humano ou desvio de procedimentos. Exemplo: em 2020, um funcionário do Citibank transferiu acidentalmente US$900 milhões ao marcar a caixa errada em um formulário digital – erro simples, mas de grande impacto. 
  • Falha complexa: resultante da combinação de vários fatores que sozinhos não causariam o problema, mas juntos levam à falha. Exemplo: o desastre do navio Torrey Canyon, que em 1967 derramou milhões de litros de óleo no mar britânico devido à combinação de pressa, condições do mar, erros humanos e falhas mecânicas. 
  • Falha inteligente: ocorre em novos territórios, nos quais o erro é parte do aprendizado e essencial para a inovação. Exemplo: a farmacêutica Eli Lilly teve um medicamento promissor para câncer que falhou em testes clínicos, mas que gerou conhecimento fundamental para avanços posteriores. 

“Falhas inteligentes são o ‘tipo certo de errado’. Sem elas, não há inovação verdadeira.” 

O papel do piloto: fracassar pequeno para não fracassar grande 

Carlos Cruz, CEO e fundador da Bravend, e Dra Amy Edmondson na ATD 25 - Washington DC
Carlos Cruz, CEO e fundador da Bravend, e Dra Amy Edmondson na ATD 25 – Washington DC

Ela contou um caso de uma empresa de telecomunicações que lançou um serviço de internet de alta velocidade baseado em um piloto bem-sucedido – mas que falhou em escala, causando atrasos, quedas na satisfação e danos à reputação. O erro foi que o piloto não foi representativo da operação real e serviu apenas para “demonstrar” o sucesso, não para aprender. 

“Pilotos devem ser desenhados para fracassar pequeno, para que o fracasso não seja um desastre em larga escala”, defendeu. Como você tem apresentado programas pilotos? Se foi para gerar resultado, então a mentalidade já está errada. 

Segurança psicológica: o alicerce para aprender com o erro 

Um ponto fundamental levantado foi a importância da segurança psicológica – ambiente onde as pessoas se sentem seguras para expressar dúvidas, preocupações, erros e ideias, sem medo de retaliação. Além disso, a Dra. destacou que segurança psicológica não é sobre conforto ou “ser bonzinho”, mas sobre criar espaço para altos padrões e aprendizado, mesmo diante de falhas. 

“Segurança psicológica não é ‘ser legal’, é garantir que as pessoas falem mesmo quando o assunto é difícil.” 

Ela também explicou as zonas em que as equipes podem estar: 

  • Zona da ansiedade: pessoas treinadas, comprometidas, mas com medo de pedir ajuda ou falar sobre erros – comum em saúde e outros setores críticos. 
  • Zona de aprendizado: motivada, engajada e segura para expressar ideias e questionamentos – o ambiente ideal para inovar e evoluir. 

Confira os episódios especiais do fala T&D diretos da ATD

Amy Edmondson e Estratégias para fomentar o fracasso inteligente e o aprendizado 

Igor Cozzo, CEO da ABTD, na ATD com a Dra Amy Edmondson
Igor Cozzo, CEO da ABTD, na ATD com a Dra Amy Edmondson

Na ATD, Amy Edmondson sugeriu três passos para líderes: 

  1. Definir propósito claro e inspirador – motivar equipes com objetivos que justifiquem o esforço e risco. 
  1. Chamar atenção para o contexto – explicar as condições de trabalho, riscos, incertezas e o que está em jogo (segurança, finanças, reputação). 
  1. Incentivar a experimentação e exploração – estimular perguntas abertas que provoquem reflexão e abracem diferentes perspectivas, criando espaço para o risco calculado. 

“Perguntas boas não são ‘sim’ ou ‘não’. Elas convidam a pensar diferente e a buscar soluções inéditas.” 

Faça festa para o fracasso 

Edmondson apresentou o conceito de “festa do fracasso”, adotado pela Eli Lilly e depois pela Microsoft na Europa, como uma forma ritualizada de reconhecer esforços, compartilhar aprendizados e encorajar a cultura do risco inteligente, desmistificando o erro e acelerando o ciclo de aprendizagem. 

Portanto, “celebrar o fracasso não é uma festa para beber, é um ritual para aprender rápido e continuar avançando.” 

Amy Edmondson e a receita para o sucesso em um mundo incerto 

Por fim, Amy Edmondson ofereceu uma fórmula simples para prosperar diante da incerteza: 

  • Mirar alto: estabelecer metas ambiciosas. 
  • Formar times diversos: reunir diferentes competências e perspectivas. 
  • Falhar bem: evitar falhas básicas, mitigar as complexas e abraçar as inteligentes. 
  • Aprender rápido: absorver os aprendizados para avançar. 
  • Repetir o ciclo : nunca parar de evoluir. 

“A excelência não é perfeição, é ser consciente dos erros e aprender com eles constantemente.” 

Por fim, Edmondson encerrou ressaltando que falhar bem é uma habilidade que precisa ser cultivada e internalizada para liderar com eficácia em um mundo de mudanças rápidas e incertezas constantes. 

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