Começou ontem, em Washington, DC, a ATD 2025, a maior e mais prestigiada conferência de T&D do mundo. Durante quatro dias, líderes, especialistas e profissionais de Educação Corporativa se reúnem para trocar boas práticas. Além disso, discutem soluções para os desafios do setor, explorar o futuro da aprendizagem e, acima de tudo, se inspirar.
Mas o que o tema desta edição – Collective Insights. Lifelong Learning – aponta para o futuro do T&D no Brasil?
A mensagem é clara: inteligência coletiva será cada vez mais o motor da inovação, enquanto a aprendizagem contínua se consolida como uma necessidade vital em um mundo em constante transformação.
Mais do que isso, o tema traz um chamado direto a nós, profissionais da área, destacando a importância de fortalecer culturas colaborativas e promover o aprendizado ao longo da vida, mesmo diante dos desafios e particularidades do nosso contexto local.
A potência desse tema também se revela nas entrelinhas – algo que esteve presente em muitas das falas do primeiro dia da conferência. Embora a tecnologia, especialmente a inteligência artificial ocupe um papel cada vez mais central no futuro da aprendizagem, o elemento humano permanece insubstituível.
O futuro do T&D será moldado justamente por essa intersecção entre avanços tecnológicos, colaboração entre pessoas e culturas organizacionais que incentivem o aprendizado contínuo. E é nesse ponto que o tema da conferência se conecta de forma especialmente relevante com os desafios e possibilidades que vivenciamos no Brasil.
IA, criatividade e o futuro da autoria no T&D

Na sessão B, fundadora e CEO da Artha Learning Inc., mostrou como a IA pode ser uma grande aliada no design de experiências de aprendizagem personalizadas e cativantes.
A combinação entre storytelling, cenários ramificados e avatares inteligentes não só otimiza processos, como amplia o potencial de engajamento. Mas, mais do que isso, ela reforça a ideia de que a tecnologia pode ampliar a criatividade humana, não substituí-la.
Essa perspectiva de colaboração entre humanos e máquinas também foi aprofundada por Falk Gottlob, diretor de Produtos da Smartcat, na palestra Exploring the Agentic Future of Learning, ao apresentar o conceito de agentes de IA que atuam em conjunto com profissionais de L&D.
Nesse modelo, humanos e máquinas compartilham responsabilidades dentro de um ecossistema de aprendizagem, conectados pela coautoria – uma ideia que amplia, na prática, o conceito de inteligência coletiva.
Por fim, na sessão The Future of Talent Development, Advanced Technologies, and the Jetsons, Kristine M. Ellis, diretora de T&D na GuideWell, abordou como as tecnologias emergentes – especialmente a IA – estão redefinindo o papel dos profissionais de T&D.
Ao propor quatro princípios para preparar talentos para o futuro, ela reforça que a IA deve ser usada para personalizar caminhos, acelerar entregas e, acima de tudo, potencializar o aprendizado humano com foco em propósito e adaptabilidade.
O que tudo isso tem a dizer ao Brasil?
No Brasil, o campo de T&D vive uma tensão constante entre inovação e realidade. De um lado, vemos a chegada de ferramentas de IA, novas plataformas e promessas de automação. De outro, ainda enfrentamos desafios estruturais: ausência de uma cultura forte de aprendizagem contínua, baixa valorização de práticas colaborativas, e uma gestão do conhecimento que, muitas vezes, ainda se sustenta em silos e formalismos.
Enquanto as lideranças globais discutem como garantir ética, inclusão e propósito no uso da IA, muitas organizações brasileiras ainda lutam para incluir o aprendizado como uma prioridade estratégica. É nesse abismo que o tema da ATD 2025 nos provoca com força: como tornar o futuro do aprendizado mais humano, mais coletivo e mais sustentável – inclusive no nosso contexto?
Aprendizagem ao longo da vida como compromisso organizacional

Lifelong learning não é uma tendência passageira. É uma resposta cultural ao mundo do trabalho que muda todos os dias. E não se trata de cursos, certificações ou pacotes de conteúdo. Trata-se de criar ambientes em que aprender seja parte do fluxo, do cotidiano, das conversas – e não um luxo reservado aos poucos.
Mais do que uma habilidade individual, a aprendizagem contínua precisa ser um compromisso organizacional. Isso exige lideranças mais abertas, culturas mais flexíveis, indicadores mais qualitativos, e uma relação diferente com o erro, o tempo e a transformação.
O futuro é humano, mesmo quando é digital
A grande mensagem que ecoa da ATD 2025 é um farol importante para quem atua com T&D: o futuro da aprendizagem não é sobre escolher entre tecnologia ou pessoas, mas sobre construir pontes entre elas. Não há dilema entre IA e empatia, entre automação e conexão, entre algoritmos e intuição.
O verdadeiro desafio é orquestrar tudo isso com intencionalidade, ética e visão de longo prazo. Em um cenário cada vez mais dinâmico e complexo, o caminho passa por unir inteligência coletiva, cultura de colaboração e o uso estratégico da tecnologia. O protagonismo humano – na forma de curiosidade, empatia, criatividade e capacidade de adaptação – continuará sendo o diferencial.
E, mais do que nunca, profissionais de T&D precisarão ocupar o papel de mediadores entre pessoas, saberes e ferramentas, impulsionando transformações reais dentro das organizações. E é justamente por isso que o tema deste ano é tão poderoso.
No fundo, ele nos lembra que o futuro será construído não por soluções isoladas, mas por comunidades aprendentes – em que tecnologia é aliada, mas o protagonismo continua sendo humano.
A pergunta que fica para nós, profissionais de T&D no Brasil, é: Como traduzimos esse chamado em práticas locais, viáveis e consistentes?
Como construímos, aqui, um ecossistema de aprendizagem que seja, de fato, coletivo e contínuo?
Por fim, a ATD 2025 mal começou e já deixou uma certeza: o futuro do desenvolvimento está em aprender. E aprender juntos.