Por Fala T&D, direto da ATD 2025 | Washington, EUA
A escolha de Amy Edmondson como uma das palestrantes mais aguardadas da ATD 2025 não aconteceu por acaso.
Professora da Harvard Business School e referência mundial em segurança psicológica, Amy tem dedicado décadas de pesquisa a uma pergunta simples, mas poderosa: por que algumas equipes aprendem mais do que outras?
Aliás, foi com essa inquietação que ela iniciou seus estudos. Seu objetivo inicial era analisar a relação entre o trabalho em equipe e a ocorrência de erros médicos em hospitais.
Para sua surpresa, descobriu que as equipes com maior número de erros reportados não eram menos competentes – mas, paradoxalmente, mais seguras. Isso porque seus membros se sentiam mais à vontade para falar sobre falhas, dúvidas e aprendizados. Assim nasceu o conceito de segurança psicológica: a crença compartilhada de que o ambiente é seguro para riscos interpessoais.
Desde então, o termo ganhou força em pesquisas, palestras, livros e – mais recentemente – na pauta da educação corporativa.
Empresas do mundo inteiro começaram a perceber que ambientes psicologicamente seguros são aqueles que mais aprendem, inovam e se adaptam. Mais do que um ambiente “legal” para se trabalhar, a segurança psicológica passou a ser reconhecida como um pré-requisito para qualquer cultura de colaboração e desempenho sustentável.
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A segurança psicológica de Amy Edmondson é urgente no Brasil
No Brasil, essa urgência se torna ainda mais evidente quando cruzamos os dados sobre saúde mental. Segundo a Pesquisa de Gestão de Pessoas na Crise, realizada pela Fundação Dom Cabral, 85% das empresas relatam aumento de casos de ansiedade e depressão entre colaboradores. O relatório “Tendências de Gestão de Pessoas 2024”, da Great Place to Work, aponta que o cuidado com o bem-estar emocional é hoje um dos principais fatores de retenção de talentos no país.
Mas o campo do desenvolvimento humano já vinha acenando para isso muito antes da agenda corporativa. O psicólogo Carl Rogers, um dos maiores nomes da educação humanista, defendia que um ambiente facilitador da aprendizagem é aquele onde há autenticidade, aceitação e empatia.
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A importância de se sentir visto
Para Rogers, aprendemos melhor quando nos sentimos vistos, respeitados e emocionalmente seguros. Sua visão antecipa, com poesia e profundidade, o que a ciência agora confirma com gráficos e dados.
Esse ponto de vista encontra eco nas ideias de Patrick Lencioni, autor de O Desafio das Equipes. Para Lencioni, a ausência de confiança é a base de todas as disfunções organizacionais. Ele argumenta que equipes saudáveis precisam confiar umas nas outras para lidar com conflitos construtivos, assumir responsabilidades e alcançar resultados.
O paradoxo? Enquanto Lencioni aponta a confiança como ponto de partida para o desempenho, Edmondson demonstra que a confiança só se estabelece quando existe segurança psicológica.
Em outras palavras: para confiar, é preciso sentir-se seguro – e para sentir-se seguro, é preciso confiar. Um ciclo que pode ser virtuoso ou vicioso, dependendo das escolhas culturais da organização.
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Nesse cenário, a educação corporativa não pode mais se limitar a habilidades técnicas ou treinamentos de prateleira. Desenvolver pessoas é, antes de tudo, criar contextos em que elas possam existir de forma inteira.
- Que o erro seja tratado como aprendizado, não punição.
- A dúvida precisa ser vista como uma porta, não como fraqueza.
- Escutar deve valer mais do que responder rápido.
A presença de Amy Edmondson na ATD 2025 não é apenas um destaque acadêmico – é um chamado ético. Um lembrete de que o futuro do trabalho será, necessariamente, um futuro emocional. Onde liderar exigirá mais do que estratégia: exigirá sensibilidade.