Por Fala T&D, direto da ATD 2025 | Washington, EUA
E se tudo o que você aprendeu sobre ensinar adultos já não fosse mais suficiente? E se as competências do passado não garantissem mais a relevância do presente, nem a sobrevivência no futuro?
Em um mundo no qual as mudanças são exponenciais. O tempo de resposta é curto e as certezas evaporam rápido. O maior diferencial talvez não esteja mais no que se sabe, mas na capacidade de continuar aprendendo.
Nesse novo cenário, repensar como formamos adultos nas organizações deixou de ser uma escolha metodológica e passou a ser uma urgência estratégica. Esse foi um tema que esteve no centro das discussões na abertura da ATD 2025.
Durante décadas, a formação de adultos foi norteada por uma ideia-chave: aprender é um processo prático, conectado à experiência e voltado à solução de problemas.
Foi com essa perspectiva que a Andragogia se consolidou como a principal referência para o desenvolvimento de programas de educação corporativa.
O termo foi popularizado pelo educador norte-americano Malcolm Knowles nos anos 1970, mas sua origem é ainda mais antiga, remontando ao século XIX na Alemanha. Knowles propôs a Andragogia como uma ciência da educação de adultos, contrapondo-se à Pedagogia, historicamente centrada na educação de crianças.
Na etimologia, Pedagogia vem do grego paidós (criança) e agogé (condução), e carrega a noção de um processo em que o aprendiz é guiado por um adulto. A Pedagogia tradicional, portanto, assume que o aprendiz é dependente, com pouca ou nenhuma experiência de vida, e que o professor é a principal fonte de conhecimento.
Já a Andragogia inverte essa lógica: reconhece o adulto como alguém autônomo, com experiências acumuladas que servem como base para novas aprendizagens, e que aprende melhor quando vê relevância imediata no que está sendo proposto.
Na prática, a Andragogia valoriza a aprendizagem orientada a problemas, a aplicação imediata no contexto de trabalho e o protagonismo do aprendiz no processo. Essa abordagem sustenta muitas das metodologias utilizadas hoje em T&D – como aprendizagem experiencial, estudos de caso e projetos aplicados. Ela também dialoga com o crescente reconhecimento de que o papel do educador corporativo é menos ensinar conteúdos e mais facilitar a aprendizagem.
Mas e quando isso não basta?
E quando o contexto exige não apenas que o colaborador aprenda, mas que desenvolva a capacidade de aprender continuamente, de forma autônoma e proativa, diante de desafios inéditos?
É aí que entra a Heutagogia, um conceito cunhado por Stewart Hase e Chris Kenyon no início dos anos 2000, na Austrália, como resposta às mudanças impostas pela sociedade do conhecimento.
Se a Andragogia parte da premissa de que o adulto é um aprendiz autônomo, a Heutagogia dá um passo além: propõe o desenvolvimento da autoaprendizagem autodeterminada (self-determined learning), na qual o indivíduo é responsável não apenas por seguir um percurso de aprendizagem, mas por definir esse percurso, seus objetivos, métodos e critérios de avaliação.
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Heutagogia como combater imprevisibilidades

Na sessão Embracing the Future: Heutagogy in Instructional Design, apresentada por Timothy M. Stafford, apresentada pelo professor da St. Thomas University durante a ATD 2025, a Heutagogia foi destacada como um caminho para enfrentar a imprevisibilidade do século XXI.
Stafford argumentou que, em um mundo onde os caminhos profissionais são cada vez mais não-lineares e o conhecimento se atualiza em velocidade exponencial. O foco do design instrucional precisa mudar: de transmissor de conteúdo para estrategista de ambientes que fomentem a autonomia.
O instrutor, nesse novo paradigma, se torna um arquiteto de experiências, curador de recursos e catalisador da autoeficácia do aprendiz.
Enquanto a Andragogia ainda pressupõe uma estrutura pensada por quem ensina, a Heutagogia defende um modelo mais fluido, centrado no aprendiz em sua totalidade – com suas necessidades, motivações, estilos e ritmos próprios. Isso demanda ambientes de aprendizagem mais personalizados, flexíveis e abertos.
Não se trata apenas de ensinar conteúdos técnicos, mas de fomentar metacompetências, como pensamento crítico, adaptabilidade e autonomia – fundamentais em tempos de inteligência artificial, novas formas de trabalho e transformação digital.
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A Andragogia na educação
Já na sessão Bringing Adult Learning Theories to Life: Necessities for Accidental Trainers, Lori Ann Roth trouxe uma abordagem acessível e prática para quem atua com T&D sem formação pedagógica formal.
Com leveza e dinamismo, ela mostrou como os princípios da Andragogia podem ser aplicados mesmo por quem “caiu de paraquedas” na função de instrutor – algo comum em muitas organizações. Roth reforçou que entender como e por que os adultos aprendem é o primeiro passo para transformar qualquer sessão de treinamento em uma experiência significativa.
As reflexões trazidas no primeiro dia da ATD 2025 são um chamado claro para profissionais de T&D: é hora de evoluir. Não basta mais entregar conteúdos bem-organizados ou dinâmicas engajantes.
É preciso desenhar experiências que estimulem o pensamento independente, a curiosidade contínua e a capacidade de se reinventar. A aprendizagem precisa acompanhar e, idealmente, antecipar o ritmo das mudanças.
Sendo assim, para quem atua com desenvolvimento humano nas organizações, o convite é à reinvenção.
Sair da lógica de “ensinar para aplicar” e entrar numa nova era, onde o verdadeiro valor está em ensinar a aprender. Isso não significa abandonar os fundamentos da Andragogia – pelo contrário, eles são a base sobre a qual a Heutagogia se desenvolve.
Mas, a diferença é que, agora, o foco não é apenas o conteúdo, mas a pessoa que aprende: em sua complexidade, autonomia e capacidade de transformação.
Afinal, metodologias ágeis, plataformas adaptativas ou algoritmos sofisticados não farão sozinhos o futuro do T&D. Por fim, pessoas que sabem aprender por si mesmas e profissionais que criam caminhos para isso farão esse futuro.
Qual a sua opinião sobre a Andragogia e Heutagogia? Conte para nós!