Recrutamento e Seleção deixou de ser “processo de RH” e passou a ser decisão de negócio. Afinal, quando a contratação erra, o custo aparece em cadeia: queda de produtividade, retrabalho, clima mais frágil e, principalmente, rotatividade.
Como referência, o Work Institute recomenda um método conservador para estimar o custo do turnover: 33,3% do salário-base por desligamento (custos diretos e indiretos).
Ao mesmo tempo, o contexto externo pressiona ainda mais. Em 2024, o engajamento global caiu de 23% para 21%, e a Gallup estima perda de US$ 438 bilhões em produtividade, com a maior queda concentrada entre gestores.
Por isso, a contratação deixa de ser triagem de currículo e passa a operar como alavanca de reputação, performance e perenidade: selecionar melhor hoje reduz risco operacional amanhã.
Quando Recrutamento e Seleção deixa de ser triagem e vira reputação + performance
Na prática, essa virada acontece quando o recrutamento passa a ser intencional e contextual, e não apenas reativo.
“O recrutamento precisa ser intencional. Para isso, o RH deve entender o negócio e o momento da área. Dessa forma, deixa de ser um ‘tirador de pedido’ e passa a ter uma visão mais estratégica da pessoa mais adequada para aquela cadeira, naquele contexto específico”, explica Flávia Bélit, HRBP da Bravend.
O ponto central é que a “vaga” nem sempre é o problema real — e um R&S maduro consegue descobrir isso antes de abrir o funil.
“O alinhamento de vaga é indispensável. Muitas vezes, o líder acredita precisar de uma posição X, mas, após uma conversa estruturada com o RH, entende que o perfil ideal, na verdade, é outro.”
Além disso, a empresa se comunica no processo, queira ou não.
“Cada contato com o candidato comunica algo sobre a empresa: clareza, respeito, organização, cultura e valores. Por isso, é fundamental ter um olhar atento para a experiência do candidato, já que a retenção começa em um recrutamento bem feito.”
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O que é recrutamento estratégico?
Seleção bem estruturada melhora a qualidade de contratação e tende a proteger o desempenho organizacional.
Um estudo de caso publicado na IARJSET (2025) defende que práticas eficazes de recrutamento e seleção vão além de preencher posições e podem contribuir para melhor ajuste pessoa–vaga, redução de turnover e maior engajamento, sobretudo quando o processo é estruturado e alinhado aos objetivos do negócio.
Além disso, uma revisão sistemática disponibilizada na Academia.edu aponta relação positiva entre recrutamento/seleção e desempenho organizacional, sugerindo também que o uso de tecnologia pode aumentar a efetividade do processo.
Em outras palavras: quando o processo seletivo é desenhado com critérios claros e consistentes, ele deixa de ser “preenchimento de vaga” e vira gestão de risco + construção de capacidade organizacional.
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Cultura e propósito: o critério que separa contratação de construção de time
Na prática, empresas que elevam R&S a estratégia tendem a olhar para duas camadas ao mesmo tempo: competência técnica e comportamento compatível com a cultura.
O próprio estudo da IARJSET coloca como hipótese que uma estratégia de recrutamento bem definida, que inclua fit cultural e alinhamento de competências, tende a contribuir para redução de turnover e melhor desempenho no longo prazo.
Mas “fit cultural” não é contratar “pessoas iguais”. É tornar explícito o que é inegociável (ex.: ética, foco no cliente, colaboração, responsabilidade) e avaliar evidências concretas de comportamento, com critérios replicáveis.
Bélit resume de um jeito bem operacional:
“Cultura está no comportamento.”
A especialista aponta um caminho de avaliação que tira o tema do abstrato:
“Em entrevistas por competência, utilizando metodologias como a STAR, é possível identificar se existe alinhamento cultural a partir das escolhas que a pessoa fez ao longo da sua trajetória. Perguntas abertas, exemplos práticos e situações reais dizem muito mais sobre valores do que respostas prontas.”
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Tecnologia ajuda, mas não substitui o julgamento humano

Com a transformação digital, ferramentas automatizadas e IA entraram de vez no funil de contratação: triagem, padronização de etapas, centralização de dados e melhoria da experiência do candidato.
No Brasil, um relatório da ADP Brasil (divulgado pelo TI Inside) aponta que, entre os investimentos tecnológicos, folha de pagamento lidera (68,7%), seguida por Recrutamento e Seleção (53,7%) e Avaliação de Desempenho (40,7%), com foco em automação e ganho de eficiência.
Ainda assim, o ponto decisivo continua sendo humano: interpretar contexto, identificar coerência entre discurso e prática e evitar que um processo automatizado vire apenas “velocidade sem qualidade”.
Para Flávia, a IA é parte do futuro do trabalho, mas é fundamental garantir que ela seja apoio, e não decisão no momento de selecionar um talento. “Vejo a IA nos meus processos como uma aliada, especialmente em etapas iniciais, filtros estratégicos e até na redação de descrições de vaga”, diz Bélit.
E aponta o risco real quando a empresa automatiza demais:
“A IA também pode se tornar um problema se automatizarmos demais, excluindo potenciais talentos por filtros rígidos, vieses de dados ou critérios que não captam contexto, trajetória e capacidade de aprendizado. A IA não substitui escuta, leitura de entrelinhas, sensibilidade cultural e julgamento humano.”
O melhor cenário, portanto, é híbrido: tecnologia para reduzir ruído e tempo, e entrevistas estruturadas para aumentar a precisão da decisão.
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Do recrutamento à retenção: contratar é só o início do ciclo
Se a empresa contrata e “solta”, ela transforma seleção em aposta. Já quando integra contratação com onboarding, acompanhamento e desenvolvimento, transforma seleção em estratégia operacional.
Aqui, o raciocínio é financeiro e cultural ao mesmo tempo: se o turnover custa caro (33,3% do salário-base, na recomendação conservadora do Work Institute), faz sentido tratar a contratação como parte de um ciclo que inclui integração, clareza de expectativa e sustentação do desempenho.
E há um ponto que costuma destruir esse ciclo logo no início: pressa + escopo confuso.
“Vejo os erros como um conjunto de fatores: escopo de vaga pouco claro ou que muda constantemente, recrutamento feito com pressa para cumprir SLAs apertados, foco exclusivo no técnico em detrimento do comportamental e do fit cultural, além da terceirização total da responsabilidade do processo para o RH”, afirma Bélit.
O antídoto, na visão dela, começa simples (e raro). Para garantir mais assertividade, é essencial alinhar expectativas reais desde o início.
Por que isso é urgente para líderes de negócio
Quando Recrutamento e Seleção é tratado como estratégia, ele passa a responder perguntas que importam para a empresa:
- Quanto custa errar uma contratação, e quanto economizamos ao acertar? (turnover, produtividade, tempo de liderança);
- Como garantimos que cultura e execução andem juntas? (fit cultural com critérios claros)
- Como aceleramos o tempo até gerar valor? (onboarding + clareza de expectativa)
- Como o RH deixa de ser operacional e vira parceiro do negócio? (automação liberando capacidade analítica e estratégica)
- Isso exige liderança presente — não só “aprovando no final”.
O líder precisa entender que contratar não é uma tarefa operacional, é uma decisão estratégica e quando isso falha, os efeitos aparecem rápido:
“Quando não há um processo estruturado, ou quando o líder acredita que recrutamento é responsabilidade exclusiva do RH, os impactos aparecem rapidamente nos dados, como turnover da área, queda de performance e desalinhamento do time.”
Segundo Flávia, uma contratação equivocada compromete uma área inteira. Por isso que o líder precisa participar, de forma consciente do recrutamento, para deixar de ser um aprovador e ser um coautor dessa contratação.
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Um passo a passo prático para tornar R&S uma estratégia de negócio
Na rotina, a mudança acontece menos por “framework” e mais por disciplina de execução. A Flávia resume em quatro movimentos:
- Ler o negócio e entender as dores antes de propor soluções;
- Atuar como parceiro real da liderança;
- Pensar na experiência do candidato, e não apenas em processos;
- Usar IA como apoio, nunca como decisor.
Recrutamento e Seleção é estratégia prática de negócio porque define quem executa, como executa e por quanto tempo sustenta a execução.
Quando a empresa coloca cultura, comportamento e competência no mesmo nível, apoiada por tecnologia, critérios claros e integração pós-contratação, ela reduz risco, melhora desempenho e fortalece marca empregadora.


