Com metáforas náuticas e provocações atuais, Gui Marback levou o público do CBTD 2025 a repensar o que significa liderar no mundo atual. A pergunta que guiou sua fala é simples, mas poderosa:
“O que é que te deixa feliz?”. Então, a partir dessa questão, ele instigou os participantes a reconectarem a liderança com propósito e sentido, começando de dentro para fora.
Marback compartilhou suas experiências como velejador para traduzir o papel da liderança em tempos incertos. No mar, assim como nas organizações, navegar exige presença, percepção aguçada e conexão com o entorno.
Sendo assim, não basta ter destino. É preciso saber ajustar as velas, adaptar a rota e cuidar da tripulação, mesmo quando o tempo vira.
“Liderar é como velejar: requer escuta sensível, consciência situacional e capacidade de manobrar com firmeza em meio às forças externas.”
Cultura é o vento invisível que move o barco
Gui comparou a cultura organizacional ao espírito da tripulação. Sendo assim, um mesmo barco, com a mesma equipe, pode viver duas jornadas completamente diferentes: uma regata (voltada para performance) ou um cruzeiro (voltado para a experiência).
Mas a diferença está na intenção coletiva, nos comportamentos valorizados e nos sistemas de consequência que a liderança alimenta, muitas vezes, de forma não intencional.
“Cultura é o conjunto de comportamentos encorajados ou permitidos pela liderança. Ela não se constrói pelo que é dito, mas pelo que é feito.”
A metáfora do veleiro tornou-se central para falar de estratégia. Portanto, não basta traçar o destino, é preciso alinhar todos à mesma direção. Gui provocou: quantas lideranças de uma mesma empresa realmente compartilham uma visão estratégica comum? Sem diálogo, não há coesão. E sem coesão, não há direção.
Ambidestria é a nova bússola da liderança
Vivemos um cenário de convergência de crises, sobrecarga emocional e exigência por resultados imediatos. A liderança tradicional, ancorada no pragmatismo e no controle, já não responde mais. Aliás, o convite de Gui é adotar um novo modelo: a tripla ambidestria.
Ambidestria vem do latim ambidextra: a habilidade de usar as duas mãos com destreza. No mundo da liderança, isso significa a capacidade de integrar polaridades que antes pareciam opostas. A proposta de Gui se apoia em três ambidestrias essenciais:
1. Ambidestria Estratégica
Integrar o curto e o longo prazo. Entregar hoje sem perder o rumo do amanhã. Criar propósito em cada tarefa cotidiana, mostrando como o presente constrói o futuro.
“As pessoas não adoecem pela cobrança, mas pela desconexão entre o que fazem e o que isso significa.”
2. Ambidestria Operacional
Equilibrar eficiência com adaptação. Garantir processos consistentes sem abrir mão da capacidade de mudar enquanto se caminha.
“A excelência não está na rigidez, mas na capacidade de ajustar as velas sem perder o ritmo da jornada.”
3. Ambidestria Humanista
Cobrar resultados com cuidado. Colocar a régua no alto e, ao mesmo tempo, olhar com empatia. Educar com firmeza e afeto, como pais que sabem o valor de um limite bem colocado.
“O cuidado não exclui a exigência. A exigência só é bem recebida quando vem com humanidade.”
Um novo sistema de consequências
Gui defendeu que os sistemas de avaliação e desenvolvimento atuais são limitados, porque focam apenas em competências e resultados de curto prazo. Falta neles o olhar sistêmico da ambidestria, o afeto e coerência.
“Liderança falha quando não há coerência entre visão, execução e humanidade.”
A proposta de um novo Sistema Geral de Consequências é colocar intencionalidade em tudo aquilo que reforça comportamentos: o que é elogiado, o que é medido, o que é promovido, o que é reconhecido. Porque são esses sinais que moldam a cultura — e, portanto, moldam o futuro.